Na terça (11/10/11) fez 15 anos que o grande poeta do rock brasileiro deixou nosso convívio, mas sua obra permanece viva nos corações e mentes dos jovens de todas as faixas etárias pelo país afora.
Num dos versos mais cantados da música popular brasileira, o vocalista e líder do grupo Legião Urbana, diz que “é preciso amar como se não houvesse amanhã / porque se você para pra pensar / na verdade não há”.
Renato Manfredini Júnior nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de março de 1960, se transformaria no ídolo pop Renato Russo, como letrista do Legião Urbana, um dos grupos mais influentes do rock brasileiro. Ainda adolescente Renato passou mal bocado por portar a doença degenerativa epifisiólise, que poderia de tirar-lhe os movimentos das pernas. Ele passa por uma cirurgia e no período de convalescência dedica-se a ouvir muita música e ler livros.
Começa o sonho de ser ídolo do rock. No sonho encontrou o nome “Eric Russell”, em homenagem ao filósofo inglês Bertrand Russell. Com sua voz de trovador medieval e sua poesia quase épica às vezes, Renato Russo teve identificação completa com os anseios de uma juventude ávida de direitos a serem conquistados.
A legião de fãs é tanta e tão fiel que muitos tratavam o grupo com o apelido “Religião Urbana”, mostrando absoluta devoção ao trio brasiliense. E mesmo o fim da banda decretado pelos outros dois integrantes, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, onze dias após a morte de Renato Russo, O número de fãs não para de crescer. O Legião Urbana, com a poesia de Renato Russo, traz em seu bojo, como diria Mário de Andrade, o “bom romantismo”, ou seja, o tipo de romantismo que eleva o tema amor à reflexão humana do que seja importante na vida, como amar e ser amado, sem pedantismo.
Antes do Legião, com 18 anos, Renato Russo formava a banda Aborto Elétrico com a qual faz seu primeiro show num bar de Brasília, onde moravam. No tempo em que permaneceu na cama, Renato sofre influência do som punk do vocalista do The Cure, Robert Smith e do também vocalista do grupo The Smiths, Morrissey. Também sofre influência, obviamente no mundo do rock, dos Beatles, de Jim Morrison dos Doors, de Jimi Hendrix, Janis Joplin e Sex Pistols, entre outros, tudo isso misturado à também óbvia influência da bossa nova, do tropicalismo e de autores da MPB.
O Legião Urbana surge em 1982, mas só consegue gravar seu primeiro disco em 1985. Tem sucesso imediato por afinar-se muito bem com o grito de liberdade da juventude da década de 1980. Para o guitarrista da Plebe Rude, Philippe Seabra, “fomos forçados a criar nossa própria cultura. O que começamos do nada virou história” ao expressar o sentimento dos novos roqueiros sobre a falta de espaço para a juventude brasiliense e brasileira. Espaço insuficiente que os jovens ainda hoje reclamam. Mas, felizmente, os roqueiros brasilienses, resolveram o problema com arte ao partir para a criação de músicas e com isso encantar multidões pelo país e pelo mundo.
Geração coca-cola e a obra de Renato e sua trupe
Composta em 1979 em plena anistia política conquistada no Brasil, uma das músicas que mais marcariam o sucesso da banda foi “Geração Coca-cola”, em cuja letra diz: “Desde pequenos nós comemos lixo/Comercial e industrial / Mas agora chegou a nossa vez/Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês”, nada mais punk, e no refrão cantam “geração coca-cola...” para mostrar a alienação presente na maioria dos jovens brasileiros na época. Outras músicas marcaram definitivamente a trajetória de Renato Russo e do Legião Urbana, banda homenageada no Rock in Rio deste ano.
Quem já não cantou “Que País é Esse”, muitas vezes usada por gente que trabalha contra o Brasil em críticas conservadoras e moralistas degenerando o Congresso nacional, misturando alhos com bugalhos, como no discurso de Dinho Ouro Preto, do grupo Capital Inicial, no Rock in Rio onde disse que “esquerda e direita são todos iguais” e “não se deve confiar nos políticos”, sem mostrar compreensão das mudanças que ocorreram no Brasil nos últimos 9 anos. Na canção o ídolo do rock canta: “Na morte eu descanso / Mas o sangue anda solto / Manchando os papeis / Documentos fieis / Ao descanso do patrão... Que país é esse”.
Um dos maiores sucesso do Legião, “Faroeste Caboclo”, também de 1979, mas gravada em 1987, vai virar filme de nome homônimo, com direção de Renê Sampaio, programado para ser lançado neste ano. Outro filme “Somos Tão Jovens”, que pretende contar faceta desconhecida do músico brasileiro, também está para ser lançado. “O mais interessante é que estou fazendo a parte desconhecida de uma história conhecida”, afirma o diretor do filme Antonio Carlos da Fontoura, diretor do filme, que pode ter seus detalhes apreciados no site www.somostaojovens.com.br. Vale conferir o conteúdo dessas duas obras.
Muitos outros sucessos do grupo são cantados pelos jovens brasileiros. Canções como “Eduardo e Mônica”, “Tempo Perdido”, “Giz”, “Pais e Filhos”, “Índios”, “Eu Era um Lobisomem Juvenil”, “Teatro dos Vampiros”, “Meninos e Meninas”, ele também musicou poema de Luís de Camões, “Monte Castelo”, dos “Lusíadas”, e a transformou numa das belas canções de amor do país, e muitos outros sucessos. Na canção “Há tempos” diz: “Disciplina é liberdade Compaixão é fortaleza / Ter bondade é ter coragem / Lá em casa tem um poço Mas a água é muito limpa…” Já na música “Será” ele canta: “Será só imaginação? / Será que nada vai acontecer? / Será que é tudo isso em vão? / Será que não vamos conseguir vencer?”, em 1984 na fase derradeira da ditadura.
Renato Russo morreu vítima do vírus HIV (AIDS) em no dia 11 de outubro de 1996. Perdia-se um dos maiores poetas da música popular brasileira ao lado de Cazuza, Arnaldo Antunes e Herbert Vianna, sob influência de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento e outros, sempre em defesa da liberdade, da justiça social, da vida boa para todos.
POR: Marcos Aurélio Ruy.
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