Com a participação da presidente do INEP, Malvina Tuttman, a discussão envolveu desigualdades para o ingresso no ensino superior
Apesar do número de matrículas na universidade brasileira ser duas vezes maior do que era há dez anos, alcançando 6,37 milhões de estudantes, o acesso à educação universitária ainda continua sendo um dos maiores desafios para a juventude do país.
Como parte da programação da sexta-feria (2/12) do 39º Congresso da UBES, a mesa “Democratização do acesso à universidade: vestibular, reserva de vagas, ENEM, ProUni” reuniu a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Malvina Tuttman; a secretária do Ministério da Educação, Maria do Pilar; o frei franciscano da Educafro Davi Santos; e o diretor de Combate ao Racismo da UNE, Cristian Ribas. A mesa foi mediada pela diretora da UBES de Sergipe, Tamara Lima.
Utilizando como base a Constituição Brasileira de 1988, que garante à população a educação como direito, Maria do Pilar tratou das políticas públicas de ensino médio. Ela apontou dados atuais do ensino país: “O Brasil possui hoje 10 milhões de jovens com idades entre 15 e 17 anos. Destes, 5 milhões estão no ensino médio, 3,8 milhões estão ainda no ensino fundamental e 1, 2 milhões nem trabalham e nem estudam. Fico incomodada com isso, já que nenhum jovem larga seus estudos como opção”, confessa a secretária do MEC.
Um dos maiores problemas da educação brasileira, que dificulta o acesso às universidades, ainda é a evasão escolar. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem a maior taxa de abandono escolar no ensino médio entre os países do Mercosul. Uma das iniciativas do MEC para combater essa evasão, garantindo o interesse dos estudantes pelas aula, é o programa Ensino Médio Inovador. Desde 2009, o projeto tem o objetivo de criar um currículo mais atraente para os alunos, incluindo 20% de disciplinas optativas e práticas.
ENEM E COTAS
Confiando na possibilidade de uma universidade aberta, com total inclusão no ensino superior, Tuttman acredita que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é apenas um processo para que, em um futuro próximo, seja extinguido o vestibular. “O Enem é um instrumento importante e está longe de ser bom, mas no momento é o melhor que nós temos”, aponta Malvina Tuttman.
Em relação à reserva de vagas para afrodescendentes na universidade, a opinião da presidente do Inep é a de que essa é também uma política emergencial, porém indispensável: “Muitas vezes temos que concordar com ações das quais não somos totalmente à favor. É o caso das cotas raciais que são importantíssimas neste momento”.
Segundo dados do IBGE, em 2007, 5,6% de jovens brancos com mais de 16 anos frequentavam o ensino superior, enquanto para os negros a taxa era de 2,8%, ou seja, a metade de acesso às vagas. “A ação afirmativa é algo muito mais importante do que apenas cotas, são políticas de reconhecimento e retratação por uma sociedade que sempre sofreu exclusão. Não queremos migalhas, queremos o pão inteiro”, defende o diretor de Combate ao Racismo da UNE.
“VESTIBULAR É UM INSTRUMENTO DESONESTO”
Totalmente contrário à ideia de submeter os estudantes secundaristas a vestibulares, frei Davi criticou a desigualdade social e racial que, segundo ele, existe neste tipo de avaliação. “Vestibular é um instrumento desonesto que as universidades públicas criaram para eliminar negros e brancos pobres. Os dados mostram que apenas 16% do conteúdo cobrado no acesso às instituições públicas é repassado nas escolas públicas”.
Segundo ele, o Governo Federal colocou nas universidades mais negros em 5 anos do que em 500.” Só no ProUni, 46,96% dos estudantes são afrodescendentes, mas, isso não é tudo. Mais de 200 mil estudantes tiveram que abandonar seus cursos por não terem dinheiro suficiente para permanecer dentro das universidades. É preciso que o MEC radicalize e implemente, o quanto antes, um sistema de bolsa permanência”, conclui o frei.
Para o estudante do ensino técnico do curso de eletromecânica do Instituto Federal de Sergip, Marvin Dias, que acompanhou o debate, a discussão sobre o acesso à universidade envolve também o seu próprio destino. Aos 15 anos, ele sonha em cursar engenharia química fora do seu estado. “Comecei meus estudos em instituições particulares e, com a dificuldade econômica em casa, acabei indo estudar em escolas públicas. Pagar faculdade está fora de cogitação, por isso acho importante debater a questão do ENEM, do SISU e das políticas públicas de permanência nas universidades, já que eu quero tentar uma vaga em universidades de São Paulo e Rio de Janeiro“, almeja.
Thatiane Ferrari
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