segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Com menos decoreba, Enem exige mudanças nos cursinhos


Desde o seu surgimento, em meados dos anos 1950, o cursinho pré-vestibular tem ocupado um espaço permanente no currículo de muitos estudantes do ensino médio. Mas seu modelo atual pode estar com os dias contados à medida que mais universidades passam a aceitar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como seu principal processo seletivo.
O Enem cobra uma lista menor de conteúdos do que os vestibulares realizados no País, menor até mesmo que os programas municipais de ensino médio. “O problema é que muitos cursinhos não entenderam isso. Eles ainda ministram aulas com conteúdos de vestibular, e acabam ensinando mais do que é exigido no Enem”, comenta o presidente de honra do Henfil, cursinho especializado em Enem, Mateus Prado.
Criado para avaliar o processo de aprendizagem do aluno ao longo do ensino médio e verificar a qualidade da educação ofertada no País, o exame pretende cobrar menos memorização de conteúdo e fórmulas e mais raciocínio lógico. Mas é possível ensinar tais competências? Na opinião de Prado, “não tem como ensinar a pensar, mas é possível abordar os assuntos do Enem em cursinhos preparatórios. O problema é que muitos cursinhos só trocam a capa da apostila, e escrevem ‘pré-enem’ no lugar de ‘pré-vestibular’”.
Contudo, para a psicóloga da consultoria educacional Diálogo, Carmen Bragança, o Enem não é a única prova a demandar habilidades cognitivas do candidato. Ela acredita ser equivocada a visão de que a prova do Enem e a dos vestibulares tradicionais sejam antagônicas, mas, em sua opinião, o Enem, mesmo com suas deficiências, avalia melhor o aluno. “A tendência é a abolição dos cursinhos, enquanto isso, eles devem manter seu objetivo original, mas adequarem-se no sentido de promoverem um processo de aprendizagem por competências. A grande questão é: estão os educadores e gestores de educação preparados para operacionalizar um processo de aprendizagem por competências? Tudo indica que nem no nível superior esse objetivo é plenamente alcançado”, diz.
Embora o Enem tenha recebido a adesão de universidades tradicionais, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV), o vestibular ainda é a principal forma de ingresso em Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul. Mesmo que o cenário se invertesse, para alguns professores de pré-vestibular, não seria motivo para fechar os cursinhos.
“Não creio que os cursos pré-vestibulares desaparecerão, tanto no curto como no longo prazo. Eles são muito versáteis e criativos. Por esta razão certamente eles apresentarão uma nova fórmula de contemplar o novo estilo de seleção, tanto em termos de material didático quanto em dinâmica de sala de aula”, afirma o professor de história do cursinho pré-vestibular Decisivo, Sérgio Freitas.
Se os cursinhos produzem material didático próprio com conteúdo de vestibular tradicional, não se arriscam a fazer o mesmo com perguntas específicas para o Enem. Prado ressalta que o MEC até disponibiliza um guia com algumas diretrizes como “você não pode colocar uma alternativa que cancele a outra, as alternativas não podem ser absurdas e as questões devem julgar se o aluno sabe tal assunto”, mas, segundo ele, quase nenhum cursinho atenta para esses diferenciais.
POR: PORTAL TERRA.

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